O ódio nas redes sociais, os cientistas políticos
e a falta de percepção crítica dos internautas brasileiros
Joanine Maria dos Santos Silva
Lílian Fernanda Duarte Silva.
- Muitos se debruçam sobre discussões acerca de diversos temas nas redes sociais mais populares, como Facebook, Whatsapp e Instagram, mas o que muito se percebe é o cultivo do ódio e da razão (sem razão) nestes âmbitos.
Pessoas que “julgam” as obras e até os demais sem conhecer da realidade, banalizando, assim, o conceito de análise crítica (fato este que Hannah Arendt tanto preconizava em sua obras, diversas, tais como “Origens do Totalitarismo (1989)” e “Eichmann em Jerusalém (1999)”, por exemplo).
- O discurso de ódio se prolifera cada dia mais e as pessoas compartilham isso sem ao menos refletir sobre aquele fato. Uns criticam o sentimento alheio, a corrente política divergente, a crise político-econômica que estamos vivenciando etc. Todavia, está se perdendo a capacidade de reflexão.
Assim como Bauman (2003), Ramonet (2007) também aduz que incorremos na discrepância de vivermos o “Mundo Líquido”, nos descuidando de alguns cuidados, tais como a reflexão. Ramonet, em seu livro
- A Tirania da Comunicação (2007), nos traz a ideia de que o mais importante hoje é a mídia ter algo para mostrar à população, não importando tanto o fato verídico, mas o fato “ao vivo” e instantâneo – não significa dizer que ele concorda com isto, visto que apenas o fator foi estudado).
Quantas vezes não cultivamos o discurso de ódio?Inúmeras e incalculáveis vezes que afirmamos (nós não, mas a população em geral) que “bandido bom é bandido morto” (mas surge o questionamento: existe bandido bom? – até na linguística não estamos parando para refletir.
- Será que não é voltar à barbárie dos tempos escuros tratar a violência com violência? Será mesmo que podemos dizer que Direitos Humanos foram feitos para os bandidos? (Humanos: palavra derivada da palavra Homem/ Humano em sentido lato, enquadrando homens e mulheres, raça humana em si. Direitos básicos e, diria fundamentais, inerentes a todo ser).
Em uma análise geral poderiam ser enquadrados alguns direitos humanos, como a Liberdade, a Igualdade, a dignidade da pessoa humana (diz-se pessoa humana para diferenciar de pessoa jurídica, bem como o Código Civil nos mostra). Quantas vezes deixamos de nos informar por acreditarmos que temos que apenas viver no nosso “castelo de areia”, aceitar isso é viver num dogma que não pode (jamais) ser contestado e essa concepção é errônea neste mundo “discutível”...
- Propagar qualquer violência contra humanos é uma faca de dois gumes, pois a partir do momento que eu alego que o outro merece violência, eu não estarei me isolando disto porque eu também sou humano (a).
É semelhante à ideia de defender a pena de morte, de modo que se dissermos que o outro tem que ser retirado desta vida por métodos assim, também nos enquadraremos neste rol por sermos iguais a todos; afinal, a nossa Carta Magna traz em seu bojo do artigo 5º que “homens e mulheres são iguais perante a lei”...
- Ao interpretar sistematicamente esta assertiva, pode-se dizer todos são iguais (ou somos seres de outro mundo?!). Sim, são iguais o branco, o preto, o amarelo, o índio, o pardo, o gordo, o magro, o rico, o pobre, o marginalizado, o escravizado, o rejeitado, o burguês, o camponês, o estigmatizado, entre outros paradigmas que a sociedade insiste em ter. (Todos, exatamente todos, são iguais!)
E os compartilhamentos de fotos de falecidos? verdadeiro absurdo! Parece que está mais implícito que nunca o culto ao terror e à anomalia de sentimentos. Mas e as famílias destes falecidos? Será que quem compartilha e divulga essas imagens não lembra destes entes?.
- O ser humano tem a mania de nunca se colocar no lugar do outro, porém neste caso é inevitável... (daí surge aquela pequena-grande indagação: “e se fosse você ali, estirado, morto, gostaria de ser mostrado para todo o Brasil e mundo afora, logo em um momento tão sórdido da vida humana?”). É lastimável e “repulsável” cultuar a necrofilia e a mídia necrófila que Ignacio Ramonet aborda (e critica).
Mas... E a quase guerra civil que estamos vivenciando em nosso Brasil? A Polarização política entre PT E PSDB (mas será que só existem estes dois partidos políticos nesse imenso Brasil?).
“Ah, mas se você apoia a redução da maioridade penal você é de esquerda”, “Ah, essas feministas são muito de esquerda”, “Ah, partido bom é aquele que rouba, mas faz”...
Quantas vezes não ouvimos algo assim dos “cientistas políticos” (tão difundidos nas redes sociais)? (A carência de boas informações talvez não seja desculpa boa para revidar indagações como estas, pois existem boas fontes sim e não precisa ser cientista político para entender, basta sentar, ler e refletir... Sim, é duro se informar de verdade, com qualidade e tentativa de verossimilhança – já dizia Ramonet (2007) em outras palavras).
- O discurso de ódio se prolifera e nós não o percebemos (isso é preocupante), ninguém é obrigado a se polarizar, a escolher lados ou algo semelhante (afinal, Raul Seixas já dizia que somos metamorfoses ambulantes;
Bauman “confirma” isto na Modernidade Líquida (2003) e em todos os seus livros “líquidos”, propagando a ideia de que vivemos uma certa era de insegurança, contudo, insegurança não pode ser usada como “imaturidade política”.
- Enfim, apenas não se quer tomar partido nem se polarizar – será que ainda se tem esse direito ou também foi mitigado?. Está se tornando ridículo polarizar o Brasil sob duas óticas quase idênticas, fingindo que não existem outras correntes políticas a serem seguidas (sabemos que existem muitos outros partidos e lados das várias moedas), até porque muitos autores afirmam que não existe Direita e Esquerda com ampla delimitação no Brasil, não sendo de nosso mérito avaliar tal alegação, ficando talvez para outros pequenos artigos aqui publicados posteriormente.
Talvez os tempos escuros nunca tenham deixado a humanidade... Ou melhor, talvez a humanidade nunca conseguiu se desprender destes. Urge em nós o retorno (ou talvez a criação) de uma reflexão muito mais próspera e presente, pois é preocupante a nossa incapacidade de indignação perante o que nos é proposto, afinal, não somos máquinas... Ou somos?!
Por menos discurso de ódio e mais amor e respeito nas redes sociais.
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